setembro – outubro de 2017
Prezadas irmãs e prezados irmãos, graça e paz!
O apóstolo Paulo foi o homem da comunicação, dos contatos humanos, da abertura, do diálogo com as culturas, do encontro com os diferentes, com os de fora, com os influentes e com as pessoas simples de seu tempo. Ele sabia a hora de falar e a hora de calar, a hora de plantar e a hora de colher. Paulo entendia a comunicação não simplesmente como meio, mas como comunhão, como vínculos. Por isso, mais do que um fundador de comunidades, foi uma pessoa das relações, capaz de trabalhar em equipe: com homens e mulheres de diferentes culturas. Desde o encontro com Jesus Cristo a caminho de Damasco (At 9), sua vida passou a ter um só horizonte: ir por todo o mundo para proclamar o evangelho a toda criatura (Mc 16,15).
Alguém, num primeiro momento, poderia pensar, considerando o volume dos textos de Paulo no Segundo Testamento, que o apóstolo vivia apenas de enviar cartas, escritas de seu escritório. Na verdade, ele primava antes de tudo por visitar as pessoas, conversar com elas, ouvi-las, conviver. As cartas foram a forma que encontrou para manter esses vínculos vivos. Eram o meio eficiente que tinha ao seu alcance na época. Elas nasciam de seu empenho missionário e pastoral.
Antes do envio das cartas, o apóstolo fazia o contato corpo a corpo com as comunidades. Nisso tinha de percorrer longas viagens e correr grandes riscos, sofrer fadigas, prisões, açoites e perigo de morte. “Fui flagelado três vezes. Passei um dia e uma noite em alto-mar. Quantas viagens com perigos em rios, perigos de ladrões, perigos por parte de compatriotas meus, perigos por parte das nações, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por estar entre falsos irmãos” (2Cor 11,24-27). Ele evangelizava com o Espírito.
Após o encontro marcante com o Mestre, após a experiência do Senhor ressuscitado, lançou-se por inteiro à vivência e ao anúncio da boa notícia. De tal modo que sua vida não lhe pertencia mais. Pertencia ao Senhor. É a experiência do amor verdadeiro. Quando se encontra o amor de verdade, é ele que dá o sentido da vida e dirige toda a ação de quem ama.
Paulo era preparado culturalmente, bem formado na cultura de seu povo e praticante ferrenho dos ensinamentos que adquirira. Todo esse repertório ele o utilizará na aventura e ousadia de pertencer a Jesus Cristo. Outrora perseguidor dos cristãos, agora se entrega de corpo e alma ao anúncio do evangelho, a ponto de expressar do fundo da alma a profundidade do seu amor: “Já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Paulo sabia que evangelizar não era privilégio, mas uma obrigação. “Ai de mim se não pregar o evangelho” (1Cor 9,16). Ele tinha convicção de que sua pregação não era tão somente fruto de suas capacidades pessoais. Sua pregação era fruto do Espírito. Como ensina o papa Francisco, “uma evangelização com espírito é muito diferente de um conjunto de tarefas como uma obrigação pesada, que quase não se tolera ou se suporta como algo que contradiz as nossas próprias inclinações e desejos” (EG 261).
Este número de Vida Pastoral trata especificamente da primeira carta do apóstolo aos Tessalonicenses, o primeiro texto escrito do Segundo Testamento. Certamente temos muito que aprender desta jovem comunidade, dos primórdios de nossa fé, vivenciada uns vinte anos após a ascensão de Jesus. Para enriquecer ainda mais nossa reflexão, contamos também nesta edição com um texto crítico sobre o chamado “Cerco de Jericó”.
Boa leitura e feliz missão.
Pe. Antonio Iraildo Alves de Brito, ssp
Editor