Caros leitores e leitoras,
Graça e Paz!
Os dados do censo de 2010 já divulgados demonstram preocupante desafeição dos jovens pelas religiões, em particular pelas religiões tradicionais. Por exemplo, há dez anos atrás havia mais católicos de até 29 anos de idade do que hoje. É grande o número dos que se declaram sem religião. Como Igreja, temos no ano de 2013 duas ótimas oportunidades para nos concentrarmos na compreensão dessa realidade e buscarmos melhorar a comunicação com os jovens: a campanha da fraternidade e a jornada mundial da juventude.
É comum que as gerações de mais idade comparem gerações anteriores com as novas e as vejam como portadoras de menos valores ou mesmo as desqualifiquem. Não é de hoje, há registros de que já antes de Cristo isso acontecia. Portanto, antes de interpretarmos a desafeição dos jovens pela religião por esse viés ou ficarmos fazendo comparações entre gerações, é preciso estar consciente de que as novas gerações são em grande medida reflexo das anteriores e das condições históricas que lhes foram legadas.
Mais fecundo que ir por esse lado é fomentar a capacidade de aprendizado mútuo entre as gerações. Gerações mais velhas têm muito a ensinar, mas também muito a aprender com as mais novas. Temos muitos bons exemplos disso ao longo de toda a história, e a Bíblia está recheada deles: jovens profetas; jovens dispostos a ir para fornalha em virtude de não abrir mão de sua fé e de suas convicções; Josué; Davi; o próprio Jesus, que crescia em sabedoria, idade e graça; Maria, tão jovem e tão disponível para o plano de Deus; e muitos dos seguidores imediatos de Jesus. Em toda a história do cristianismo não foi diferente, bem como na história do Brasil: basta lembrar os jovens abolicionistas, os inconfidentes, os que resistiram à ditadura. Na atualidade, também: os jovens dos fóruns sociais mundiais, dos movimentos culturais, os que se empenham na conquista de direitos para as minorias discriminadas; os jovens dos movimentos contra a economia capitalista predadora; os jovens que, apesar da desafeição religiosa de muitos, perseveram no empenho religioso.
A juventude possui força revitalizadora e transformadora devido a não estar completamente envolvida com o status quo. Os jovens despojam-se mais facilmente de preconceitos e tabus. As sociedades dinâmicas aproveitam as potencialidades de que os jovens são portadores para se revitalizar e renovar. Há até bem pouco tempo, como nos lembra o prof. Jorge Cláudio Ribeiro, em artigo a seguir, a Igreja teve bastante êxito na interação e evangelização dos jovens. Basta lembrar a Ação Católica e a vitalidade de diversos movimentos juvenis. É fundamental, portanto, nos concentrarmos em compreender quando e por que essa boa relação se rompeu. Não são apenas os jovens que se distanciaram da Igreja, esta também, infelizmente, tem perdido habilidades na interação com eles e se distanciado.
Melhorar a comunicação com os jovens, segundo Ribeiro, não é questão de ampliar mais o arsenal midiático em concorrência com os meios de comunicação evangélicos e de promover mais alguns padres cantores e celebridades. Não é questão de quantidade de meios, mas de qualidade de comunicação, que para acontecer precisa de confiança mútua entre as lideranças católicas e os jovens. Não visar apenas a ensinar, mas também a aprender; admirar os jovens e valorizar sua seiva renovadora. Trata-se de transformação, mudanças de atitude, alocação de recursos, reflexão teológica qualificada, mudança nas relações de poder. A juventude tomou a palavra nos anos 60 e não estava disposta a abrir mão dela em relações que visem apenas sua aceitação passiva e obediente, que os tornem infantis. Deseja e tem o direito de participar, dialogar, reinvidicar e decidir conjuntamente.
Construir essa interação significa também criar espaços para ajudar a juventude a amadurecer, a superar a mentalidade de que não tem nada a aprender com as gerações anteriores e a superar o narcisismo e a idolatria do prazer e da eterna juventude tão propalada na cultura atual.
Pe. Jakson Ferreira de Alencar, ssp
Editor