Publicado em novembro-dezembro de 2012 - ano 53 - número 287 - (pp. 11-18)
O ano da fé como porta que introduz na comunhão com Deus
Por Clóvis Aparecido Damião
INTRODUÇÃO
O papa João Paulo II, no início de sua Encíclica Fides et Ratio, afirma que “a fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”, ressaltando com isso que a necessidade de cultivar a fé se fundamenta na busca da verdade. O grande desejo do ser humano é a realização e a felicidade. Esses dois elementos estão presentes nos sonhos e projetos de todas as pessoas, claramente visíveis em nosso tempo. Da busca de sua realização, em nossa época, muitos passam a viver experiências religiosas as mais diversas, que na sua percepção oferecem soluções para seus problemas e inquietações. Entretanto, nem sempre a verdade é o objetivo principal desses grupos religiosos. A busca de sentido para a vida e de transcendência também muitas vezes se reduz à ilusão do consumismo, do poder, do prazer e de coisas materiais, que, transformados em absoluto, tendem a produzir frustração, dentre outros problemas. A cada dia também cresce o número de pessoas que se declaram sem religião e que vivem sua religiosidade ao seu modo.
Por isso, torna-se ainda mais atual o tema da fé cristã para uma reflexão que desperte a consciência do itinerário de fé desejado por Cristo, que é a própria Verdade, o Caminho e Vida (cf. Jo 10,10). De outubro desse ano a outubro de 2013, o papa Bento XVI nos propõe o Ano da Fé, em comemoração ao cinquentenário do início do Concílio Vaticano II. A Carta Apostólica Porta Fidei, em que ele proclama tal ano, destaca “a necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo” (n. 2).
Estamos diante de uma pluralidade de modelos de fé e, por isso mesmo, faz-se necessário fortalecer a convicção naquilo que acreditamos. Quando questionada sobre sua fé, Marta responde a Jesus por ocasião da morte de Lázaro (Jo 11,19-27): “Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir ao mundo”. É à luz dessa proclamação de fé que o cristão é convidado a refletir sobre a fé cultivada em seu interior. Marta não apenas responde que crê, mas afirma que crê firmemente, isto é, tem convicção do que acredita. Com o desejo de propiciar aos cristãos tal convicção, a Igreja convida todos a dedicarem um ano inteiro para falar da fé e aprofundá-la em seus corações.
Professar a fé numa época de crises
As Diretrizes da Ação Evangelizadora no Brasil 2011-2015 afirmam que estamos não apenas numa época de mudanças, mas numa mudança de época (cf. n. 19), o que ocasiona tempos desnorteadores, inclusive no âmbito da fé. As pessoas são estimuladas a viver a fé de forma intimista, pois “já não é mais a pessoa que se coloca na presença de Deus como servo atento, mas é a ilusão de que Deus pode estar a serviço das pessoas” (n. 22). Essa ideia errônea do cultivo da fé não se coaduna com a proposta libertadora de Jesus, que não pregou uma fé que deve esperar recompensas e soluções imediatas, mas o compromisso com o Reino de Deus, mesmo se necessário passar pela cruz.
O próprio papa alerta sobre essa profunda crise que faz com que o homem contemporâneo sinta necessidade de dar razões da sua fé. Sua intenção é fazer com que a Igreja ofereça uma vez mais a oportunidade de todo cristão perceber a força e a beleza da fé (cf. Porta Fidei, n. 04). Com esse intuito, a Igreja, enquanto povo de Deus, terá oportunidade de buscar, com empenho e dedicação, a conversão necessária para a vivência de uma fé madura e consciente. A pergunta que deve ser feita, nessa perspectiva, é: o que impede que os cristãos de hoje atinjam essa maturidade na fé? Para responder a essa pergunta, é necessário propor outra: quem são os cristãos de hoje?
Ao destacar o tema “Iniciação à Vida Cristã”, os bispos do Brasil, reunidos na 47ª Assembleia em Itaici – SP, no ano de 2009, refletiram sobre a urgência de evangelizar aqueles cristãos que já receberam os sacramentos da Iniciação Cristã, mas não foram suficientemente evangelizados (cf. Iniciação à Vida Cristã, n. 24). Essa evangelização só é eficaz se provoca uma adesão pessoal a Jesus Cristo, fortalecendo a fé e dando razões para o seu cultivo.
Na atual conjuntura, nesse contexto majoritariamente urbano, os cristãos que frequentam as igrejas são pessoas muito diversas umas das outras, o que torna a Igreja de hoje bem mais diversificada, em todas as suas áreas pastorais, que no passado. Por isso, a necessidade de nova evangelização, com novo ardor e entusiasmo sempre renovado, capaz de levar o discípulo missionário a “sair ao encontro das pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e compartilhar o dom do encontro com Cristo” (Documento de Aparecida, n. 548).
Essa crise de fé atual atinge toda a sociedade. Na Igreja, são muitos os agentes de pastoral que não conhecem profundamente sua própria fé. Fora da Igreja, há tantos homens e mulheres sedentos do sagrado, mas que não enxergam a necessidade da vida eclesial. No campo da política e da cultura, um grande número de pessoas vê a Igreja de forma negativa, como instituição arcaica e ultrapassada. Paralelas a isso, inúmeras denominações cristãs proliferam, na linha da economia de mercado, oferecendo às pessoas solução para todos os seus problemas. Tais denominações prometem o que, na verdade, Deus nunca prometeu e criam um novo protótipo de cristianismo, desvinculado da vivência comunitária. São esses os cristãos de nosso tempo. Grande parte deles indiferentes à Igreja ou até contrários a ela.
Voltando à pergunta inicial, a maturidade na fé dos cristãos de hoje só será possível à medida que nossas comunidades se tornarem exatamente aquilo que deveriam ser: educadoras da fé. Diversos desafios se apresentam diante da ação evangelizadora, porém, o progresso da Teologia tem colaborado para que a fé não seja apenas acolhida, mas refletida e abraçada com convicção. É claro que, por outro lado, faz-se necessário recordar que a fé é sempre busca, procura da verdade. Por isso, recorda o papa João Paulo II que “a fé diz respeito a coisas que ainda não são possuídas, pois se esperam e não se veem ainda, senão como que ‘num espelho, de maneira confusa’ (cf. 1Cor 13,12)” (Catechesi Tradendae, n. 60). Desse modo, o cristão nunca estará de posse plena da verdade que ele busca pela fé. Mesmo assim, o encontro pessoal e verdadeiro com Cristo lhe dará garantias e esperança de se aproximar sempre mais dessa verdade.
O desafio da ação evangelizadora e do ministério pessoal de cada discípulo missionário adquire maior dimensão nesse contexto. Isso porque torna-se necessário oferecer os conteúdos da fé para aqueles cristãos que não a vivem suficientemente, oferecer também tais conteúdos para os não cristãos que a querem conhecer e, talvez o mais desafiador, oferecer razões para que aqueles que abandonaram a fé ou não se importam com ela percebam sua real necessidade. Certamente será nessa direção que toda a Igreja será conclamada a refletir no Ano da Fé, pois “não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior, porque tem sua origem em Deus” (Porta Fidei, n. 07).
A fé professada ao longo da história
Diversas vezes já foram recordadas as palavras do papa Bento XVI, que afirma que “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (Documento de Aparecida, nn.12 e 243).
Foi o encontro com essa Pessoa que despertou e fortaleceu a fé de inúmeros homens e mulheres que, ao longo da história, sustentaram e edificaram a Igreja de Jesus Cristo. É ele essa Pessoa que, na plenitude dos tempos, veio ao encontro da humanidade para dar-lhe sentido e orientação, propondo a mensagem do Reino.
Não se pode falar de fé madura e consciente sem se recordar dos primeiros cristãos. Tanto os textos canônicos como aqueles que vieram depois descrevem a força e o testemunho de milhares de pessoas que encontraram em Jesus Cristo razão para suas vidas. Os apóstolos e os discípulos viveram sua fé com tamanha profundidade que – na sua maioria – perderam a vida por não recusarem negar a fé que abraçaram. Entre os diversos mártires da Igreja, recordamos os próprios apóstolos e Estêvão, bem como os primeiros bispos de Roma, mortos brutalmente por causa da intolerância religiosa de seu tempo. Deles, Tertuliano, um dos pais da Igreja, dizia que o seu sangue era o adubo que fazia crescer a Igreja. Pela fé, esses homens deixaram tudo para seguir Jesus Cristo, e a comunhão de vida com Jesus fez deles verdadeiras testemunhas do Evangelho.
Nos sete primeiros séculos da era cristã, diversos homens de Deus tornaram-se, também, exemplos de fé e santidade pela coragem em defender a Igreja e elaborar os conteúdos da fé que já era vivida, mas que, aos poucos, precisou ser sistematizada. São os chamados padres da Igreja. Entre eles, pode-se citar Inácio de Antioquia, Irineu de Lyon, Hipólito de Roma, Justino, Cipriano, Atanásio, João Crisóstomo, Agostinho e tantos outros. Seus escritos demonstram a profundidade de sua fé e como se tornaram fiéis defensores da mensagem cristã.
Além deles, como exemplos de fé podem-se encontrar belíssimas histórias de vida de homens e mulheres que se entregaram aos monastérios, desde Santo Antão até São Bento de Núrsia. Vale recordar, ainda, o exemplo de santos e santas como São Francisco de Assis e São Domingos, e mais tarde Santa Rita de Cássia, São João da Cruz e Santa Tereza D’Avila, Santa Terezinha do Menino Jesus e tantos outros. Em nossos dias, os exemplos de Tereza de Calcutá e João XXIII são sempre recordados como motivação para viver a interação fé e vida.
É fundamental recordar, também, como testemunhos de fé, a vida de muitos anônimos que, incansavelmente, por todo o canto do mundo, doam suas vidas na evangelização, na catequese e na pastoral, sendo perseguidos e, muitas vezes, mortos por crerem em Jesus Cristo. Esses homens e mulheres de nosso tempo, bem como todos os outros, de todos os tempos, recordam com a própria história de vida que, com a fé, é possível dar pleno sentido à existência humana. Desse modo, é possível olhar para a história e enxergar a ação do Espírito de Deus, que continua inspirando homens e mulheres a fundamentarem sua fé no amor de Jesus Cristo e, nele, encontrarem alento para suas vidas.
Professar a fé hoje: De que modo e para quê?
O papa Bento XVI recorda que os primeiros cristãos eram incentivados a aprender de memória o Credo, como oração diária, a fim de que não se esquecessem do compromisso que haviam assumido com o batismo (cf. Porta Fidei, n. 09). Diversas pessoas, atualmente, ainda mantêm o Credo nas suas orações cotidianas. No entanto, nas celebrações eucarísticas, a Profissão de Fé nem sempre cumpre seu papel, pois professam-se as verdades da fé sem se pensar naquilo que elas expressam. Como todos sabem de memória, há o perigo constante de se fazer a Profissão de Fé sem a compreensão mínima do seu significado. Por isso, é importante recordar para que o cristão é convidado a professar a sua fé.
Primeiramente, é bom lembrar que os primeiros cristãos não apenas viviam sua fé, mas a testemunhavam com as palavras e com a vida. O que fez o Evangelho se espalhar por todos os cantos foi a convicção com que eles partilhavam com os outros o que a nova fé havia causado em seus corações. Um segundo aspecto fundamental que deve ser lembrado é que o testemunho sincero de cada cristão converte outros, mas fortalece ainda mais a convicção de quem anuncia. Aquele que evangeliza também é evangelizado por suas próprias palavras, pois é o Espírito de Deus que age nele e por ele. Além disso, um terceiro motivo para o cristão professar a sua fé deve ser a recordação de que o Deus da revelação é um Deus que se abre à humanidade. Por isso, abrir-se para oferecer aos outros a oportunidade de experimentar o que o próprio evangelizador já experimentou é, na verdade, imitar o próprio Deus na sua abertura à humanidade.
Entretanto, também é fundamental questionar o modo como se deve professar a fé. Já recordamos o modo mecânico com que, muitas vezes, o Credo é proclamado nas celebrações eucarísticas. Por isso, alguns elementos são essenciais na vida do cristão que deseja viver sua fé com autenticidade e, por isso, sente o desejo de proclamá-la aos outros. Entre esses elementos, destacamos: a participação consciente na liturgia em comunidade; a oração pessoal constante e perseverante; o contato direto com a Palavra, como fonte para toda a vida, e a partilha daquilo que cada um experimentou de modo a gerar nos corações o desejo de conhecer mais e melhor a mensagem de Jesus Cristo.
A religiosidade popular como despertar da fé
É necessário ainda recordar a fé dos que não participam das comunidades eclesiais. Aqueles católicos que anteriormente citamos, alheios à vida de comunidade, que não perceberam a necessidade da Igreja como instrumento de salvação, nem sempre são alheios aos elementos religiosos ligados a ela. Por isso, constatam-se como realidade muito presente em nossa sociedade as diversas manifestações da religiosidade popular. Inúmeras pessoas, por todos os lados, não frequentam regularmente as celebrações litúrgicas, mas continuam ligadas à fé católica através de elementos diretamente ligados ao povo. Pode-se pensar, por exemplo, nas diversas devoções praticadas pelas pessoas em todas as dioceses do país, como as romarias, peregrinações e cumprimento de promessas. Além disso, dificilmente se encontra uma família no Brasil que se declara católica que não possua dentro de casa alguma imagem de devoção ou algum objeto religioso. Essa realidade é bem menos presente nas grandes metrópoles, mas ainda é bastante perceptível.
A religiosidade popular está presente em todas as partes do mundo como verdadeiras expressões particulares da busca de Deus que necessitam, por isso mesmo, ser purificadas. Ademais, é a fé que está na base dessas expressões que precisa de purificação, para que as pessoas compreendam os fundamentos dessa fé.
A Exortação Apostólica Evangelli Nuntiandi, de Paulo VI, no número 48, destaca algumas limitações da religiosidade popular, que está sempre aberta a deformações da religião, como, por exemplo, as superstições. Tais manifestações não expressam, segundo ele, uma verdadeira adesão a Jesus Cristo, o que pode colocar em perigo o conteúdo da fé e a própria Igreja. Mas o próprio Paulo VI também afirma que, “encaradas durante muito tempo como menos puras, algumas vezes desdenhadas, essas expressões assim constituem, hoje em dia, mais ou menos por toda a parte, o objeto de uma redescoberta” (Evangelli Nuntiandi, n. 48), o que denota a riqueza que a religiosidade popular pode oferecer à Igreja. Por isso mesmo, não se pode ser indiferente a esse aspecto da evangelização, como oportunidade de cultivar a fé dos cristãos.
É fundamental orientar bem as práticas da religiosidade popular, para que dela as comunidades eclesiais se sirvam e nela os discípulos missionários encontrem espaço para oferecer a todos o aprofundamento da própria fé. Levando-se em consideração que tais expressões são vividas por um grande número de pessoas da sociedade, é urgente oferecer a elas o pão da boa doutrina e o pão da Eucaristia (cf. Catechesi Tradendae, n. 67), mas também, e antes de tudo, o pão que alimenta o corpo, intensificando o testemunho da caridade na vida e no ministério daquele que evangeliza. A caridade continua sendo expressão de uma fé madura e transformadora.
Presentes ao redor de todas as comunidades eclesiais, as expressões da religiosidade popular demonstram a sinceridade de coração com que milhares de pessoas vivem sua fé e, por isso, devem ser sempre valorizadas. Tais práticas, chamadas também de piedade popular, aproximam, mesmo que de modo mais superficial, as pessoas a Deus. Portanto, nenhum ministro ordenado ou agente de pastoral pode agir com insensibilidade diante dessas pessoas, como quem tira algo e não coloca nada no lugar. Conforme diz o papa, “bem orientada, essa religiosidade popular pode vir a ser, cada vez mais, para as nossas massas populares, um verdadeiro encontro com Deus em Jesus Cristo” (Evangelli Nuntiandi, n. 48). A partir daí, a missão da Igreja é purificar, fortalecer e educar a fé desses homens e mulheres que já experimentam Deus e têm também o direito de conhecê-lo mais e melhor.
O Ano da Fé como tempo de graça
Assim termina o papa sua Carta Apostólica: “à Mãe de Deus, proclamada ‘feliz porque acreditou’ (cf. Lc 1,45), confiamos este tempo de graça” (Porta Fidei, n. 15). Sendo assim, é desejo do papa e de toda a Igreja que o Ano da Fé seja tempo de graça para todos. A graça de Deus, acolhida na vida do cristão, deve levá-lo a compreender sempre mais e melhor o amor generoso de Deus, que ama o ser humano na gratuidade. Embora o cristão tenha capacidades para perceber os sinais de Deus em sua história, é sempre Deus que toma a iniciativa. Isso é graça.
Os cinquenta anos do início do Concílio Vaticano II que inspiram esse Ano da Fé devem nos recordar a dinamicidade da Igreja, que, guiada pelo sopro divino, continua atualizando no mundo a mensagem salvífica de Cristo. Nesses cinquenta anos, grandes transformações aconteceram na Igreja, observadas não apenas em suas estruturas, mas nas comunidades vivas de fé. Cada vez mais, o cristão é chamado a viver e a testemunhar a sua fé com ardor, recebendo da própria Igreja oportunidades de se formar e de se preparar para a missão. Olhando para essa transformação, é possível novamente afirmar que tudo é graça de Deus para a humanidade.
Por outro lado, celebrar o Ano da Fé como tempo de graça não será apenas oportunidade de louvar a Deus pela graça da fé que ele suscitou em nós. Será também ocasião para um profundo exame de consciência, pois o ser humano necessita constantemente de conversão, já que o pecado continua a ser obstáculo ao acolhimento da graça de Deus. Diante das inseguranças do mundo moderno, o cristão parece cada vez mais não conseguir separar ocasiões de santidade das ocasiões de pecado, pois os valores cristãos constantemente são colocados de lado. Certamente é por isso que a fé tem sido tão questionada.
Nesse sentido, o papa reforça que, “ao longo deste Ano, manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo, autor e consumador da fé” (ibid, n. 13), para quem deve convergir todo trabalho evangelizador da Igreja. Ao reforçar a fé de cada cristão, a Igreja deverá apresentar a proposta de Jesus Cristo de modo cada vez mais claro e convincente, pois tal proposta fará brotar a fé no coração daqueles que ainda não o conheceram e fortalecerá a fé naqueles que ainda não o compreenderam como o Deus que se faz humano para se aproximar de nós.
Conclusão
Numa das vezes em que Jesus trata da fé como tema de seus ensinamentos, ele certamente deixa seus discípulos espantados por afirmar que a fé deles era menor do que um grão de mostarda (Mt 17,20). Essa observação Jesus não faz a respeito de pessoas que ainda não tinham ouvido seus ensinamentos, nem a respeito de pessoas que o haviam rejeitado. Ele fala aos seus próprios discípulos. Por isso, suas palavras são diretamente aplicáveis aos cristãos de hoje. Enquanto imaginarmos que a evangelização é para aqueles que estão fora da Igreja, perderemos a oportunidade de amadurecer na fé, pois Jesus falava primeiro aos seus discípulos para depois falar aos outros. Toda mensagem de Jesus, da qual a Igreja é portadora, deve antes ser oferecida a nós cristãos, para que, cultivando a fé no coração dos outros com nossas palavras e nosso exemplo de vida, possamos transmiti-la bem aos outros.
BIBLIOGRAFIA
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Clóvis Aparecido Damião
* Licenciado em Filosofia e Letras, bacharel em Teologia, especialista em Catequese pelo IRPAC-Leste II, pós-graduado em Ética e Filosofia e mestrando em Teologia Pastoral pela PUC-SP.