Publicado em setembro-outubro de 2011 - ano 52 - número 280
Animação bíblica da pastoral – abp
Por Irmão Nery, fsc
“O Sínodo (de 2008) convidou a um esforço pastoral particular para que a palavra de Deus apareça em lugar central na vida da Igreja, recomendando que ‘se incremente a pastoral bíblica, não em justaposição com outras formas da pastoral, mas como animação bíblica da pastoral inteira’” (Bento XVI – Verbum Domini, n. 73).
1. O ACESSO DOS CATÓLICOS À BÍBLIA
Um dos documentos fundamentais do Concílio Vaticano II (1962-1965) é a constituição dogmática Dei Verbum (A palavra de Deus ou A revelação divina), promulgada na oitava sessão conciliar, no dia 18 de novembro de 1965. Apesar de ser um dos mais breves documentos do concílio, é, sem dúvida, um dos mais ricos em doutrina e orientações pastorais, sinalizando verdadeira conversão da Igreja Católica no que diz respeito à palavra de Deus e, mais precisamente, à Bíblia. Mas que mudança é essa se o próprio concílio afirma categoricamente a primazia da palavra de Deus na vida da Igreja? Diz o documento: “A Igreja sempre teve e tem as Divinas Escrituras, juntamente com a Tradição, como suprema regra de fé, porque, inspiradas por Deus e consignadas por escrito, de uma vez para sempre, comunicam a palavra do próprio Deus e fazem ressoar através das palavras dos profetas e apóstolos a voz do Espírito Santo” (DV 21).
E a DV, como o diz a citação acima, não se refere apenas à palavra de Deus escrita nas Sagradas Escrituras, isto é, na Bíblia, mas a toda a revelação divina. E isso está expresso no título oficial do documento: Constituição dogmática sobre a divina revelação. Ora, o objetivo maior dessa constituição é exatamente sintetizar o que a Igreja Católica ensina sobre a divina revelação e a sua transmissão, insistindo no modo específico católico de tratá-la, isto é, levando sempre em consideração a estreita união e complementaridade entre Sagrada Escritura, Tradição e Magistério eclesial. Nesse caso, a constituição expressa, certamente, significativo esforço de unidade e de síntese quanto à apresentação dos fundamentos de nossa fé cristã.
Na verdade, as orientações práticas de tudo o que consta na DV expressam uma novidade que é das mais prenhes de consequências para a vida da Igreja: os leigos e a Bíblia. Diferentemente do que acontecia ao longo de séculos, quando os fiéis leigos não tinham acesso à Bíblia, eis o que a DV diz, mais precisamente no parágrafo 22: “É preciso que o acesso à Sagrada Escritura seja amplamente aberto aos fiéis”. E acrescenta, no item 25: “Exorta igualmente o santo concílio a todos os fiéis cristãos […], com veemência e de modo peculiar, a que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, aprendam ‘a eminente ciência de Jesus Cristo’ (Fl 3,8), porquanto ‘ignorar as Escrituras é ignorar Cristo’ (S. Jerônimo, Comm. in Is., Prol.: PL 24,17). Acessem, portanto, de boa mente, o próprio texto sagrado” (DV 25). E recomenda ainda, no mesmo parágrafo 25: “Lembrem-se, porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração a fim de que se estabeleça o colóquio entre Deus e o homem, pois ‘a Ele falamos quando rezamos e a Ele ouvimos quando lemos os divinos oráculos’” (S. Ambrósio, De Officiis ministrorum, 1,20,88: PL 16,50).
2. PASTORAL BÍBLICA
A partir desse impulso do Concílio Vaticano II, multiplicaram-se em todos os países iniciativas para facilitar aos fiéis o acesso às Sagradas Escrituras. E então, aos poucos, foi se organizando nas dioceses e paróquias o que passou a ser denominado de pastoral bíblica. Ela congraça e dinamiza, com base no plano orgânico de pastoral, as iniciativas de acesso do maior número possível de fiéis à palavra de Deus e também cuida da formação bíblica deles.
A própria constituição dogmática, no parágrafo 22, dá sugestões práticas para a efetivação dessa formação, que pode ocorrer “quer pela Sagrada Liturgia, repleta da palavra de Deus, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e por outros meios que, com a aprovação e o empenho dos pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte” (DV 25).
Outra sugestão se refere à tradução da Bíblia: “Como a palavra de Deus deve estar à disposição de todas as épocas, cuida a Igreja, com materna solicitude, se façam, para as várias línguas, versões adequadas e corretas, principalmente dos textos originais dos livros sagrados (…) inclusive em colaboração com os irmãos separados” (DV 25).
Para tanto, é fundamental, reconhece o concílio, que os pastores e demais líderes católicos tenham boa formação bíblica:
Eis por que é necessário que todos os clérigos, sobretudo os sacerdotes de Cristo e os outros que, como os diáconos ou os catequistas, legitimamente se consagram ao ministério da Palavra, se apeguem às Escrituras, por meio de assídua leitura sacra e diligente estudo, para que não venha a ser vão pregador da palavra de Deus, externamente, quem não escuta interiormente, quando especialmente na Sagrada Liturgia tem que comunicar aos fiéis a ele confiados as vastíssimas riquezas da palavra divina (DV 25; cf. DV 23-24).
A DV dá importantes recomendações aos exegetas e aos teólogos. Assim, incentiva os exegetas a desempenhar a missão que lhes cabe, sempre, porém, sob a orientação dos pastores. Recomenda que a Sagrada Escritura seja a alma da teologia, que “se apoia, como em perene fundamento, na palavra escrita de Deus, juntamente com a Sagrada Tradição, e nessa mesma palavra se fortalece firmissimamente e sempre se remoça, perscrutando, à luz da fé, toda a verdade encerrada no mistério de Cristo” (DV 24). Em consonância com o que viemos afirmando, vale aqui a citação do número 24 da DV: “Da mesma palavra da Sagrada Escritura também se nutre salutarmente e santamente floresce o ministério da Palavra, a saber, a pregação pastoral, a catequese e toda a instrução cristã, na qual deve ter lugar de destaque a homilia litúrgica”.
O papa Bento XVI, na Verbum Domini, n. 75 – a exortação apostólica suscitada pelo Sínodo de 2008, datada de 30 de setembro de 2010 –, reforça as mesmas recomendações do concílio e acrescenta outras. Nessa exortação apostólica, diz o papa: “Desejo indicar algumas linhas fundamentais para uma redescoberta, na vida da Igreja, da palavra divina, fonte de constante renovação, com a esperança de que a mesma se torne cada vez mais o coração de toda a atividade eclesial” (VD 1).
Ele pede, por exemplo, especial atenção ao apostolado bíblico e aos centros de formação para leigos e missionários, nos quais se aprende a compreender, viver e anunciar a palavra de Deus, mas também aos institutos especializados em estudos bíblicos, a fim de dotarem os exegetas de sólida compreensão teológica e de adequada sensibilidade para os ambientes da sua missão.
3. A PASTORAL BÍBLICA NO BRASIL
Na história da Igreja no Brasil depois do Concílio Vaticano II, um dos campos que indubitavelmente mais receberam impulso e tiveram mais significativos avanços foi a pastoral bíblica. E isso apesar de a maioria dos membros da hierarquia e, mais ainda, a maioria dos fiéis desconhecerem a Dei Verbum. Devemos a alguns biblistas e pastoralistas e a alguns grupos iluminados e zelosos a aplicação de várias das recomendações da DV. É impossível citar todos aqui. Entretanto, mesmo correndo o risco de incorrer em esquecimentos importantes, vale recordar alguns nomes e instituições entre tantos outros: padre Frederico Dattler, svc, frei Carlos Mester, ocd, frei Francisco de Assis, ofm, o Centro de Estudos Bíblicos (Cebi), o Serviço de Animação Bíblica – SAB (cujo início se deu na Arquidiocese de Belo Horizonte, passando, em seguida, para o Regional Leste 2 e, finalmente, para as Paulinas), o Centro Bíblico Verbo… Exerceram grande influência também a quantidade e variedade de folhetos e livretos de fácil acesso, que se multiplicaram por todos os cantos do país, entre os quais se destacaram o semanário Bíblia-Gente e os numerosos cadernos do Cebi. Duas iniciativas metodológicas tiveram e continuam com grande aceitação, gerando excelentes frutos: a leitura orante da Palavra na ótica dos pobres e os círculos bíblicos. E, é claro, a própria CNBB, que estimulou essa pastoral e promoveu alguns encontros nacionais, ricos em reflexão e, sobretudo, em trocas de experiências sobre a caminhada da pastoral bíblica no Brasil.
Sob o impulso do Sínodo de 2008, a 48ª Assembleia Geral dos Bispos, em maio de 2010, em uma de suas mensagens, reconhece toda essa caminhada da pastoral bíblica em nosso país, como podemos constatar no parágrafo a seguir:
Louvemos a Deus por tudo o que se fez e se faz em nosso Brasil por meio do trabalho evangelizador com a Bíblia, desde o “movimento bíblico”, já antes do Concílio Vaticano II, e com ele e a partir dele, com a rica “pastoral bíblica”. A nossa Igreja no Brasil tornou-se mais atenta em acolher a Revelação do Senhor, mais animada em encontrar-se com a Palavra viva, que é Jesus Cristo, e mais profética e misericordiosa em servir a todos, especialmente aos mais fracos. Deus suscita em nosso povo uma grande fome e sede da Palavra, uma grande procura e desejo de conhecer, viver e anunciar a mensagem da Sagrada Escritura. Esse encantamento pela Palavra é um apelo para que, em nossas dioceses, paróquias e comunidades, se ofereça e se facilite o acesso à Bíblia, ao estudo bíblico e à vivência da mensagem revelada.
4. ANIMAÇÃO BÍBLICA DA PASTORAL
Aos poucos, pessoas e grupos de nossa Igreja, atentos aos sinais dos tempos, perceberam a necessidade de um salto qualitativo e significativo na pastoral bíblica, indo além das recomendações da DV 22, que já são de grande valia, isto é, permitir aos “fiéis terem amplo acesso à Sagrada Escritura e se familiarizarem, de modo seguro e útil, com a Sagrada Escritura e se embeberem do seu espírito” (DV 25). A novidade apareceu com clareza na 5ª Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe em Aparecida, em maio de 2007, e consta em seu documento final, no número 248:
Faz-se, pois, necessário propor aos fiéis a palavra de Deus como dom do Pai para o encontro com Jesus Cristo vivo, caminho de “autêntica conversão e de renovada comunhão e solidariedade” (EAm 12). Esta proposta será mediação de encontro com o Senhor se for apresentada a palavra revelada, contida na Escritura, como fonte de evangelização. Os discípulos de Jesus desejam alimentar-se com o pão da Palavra: querem chegar à interpretação adequada dos textos bíblicos, empregá-los como mediação de diálogo com Jesus Cristo, e a que sejam alma da própria evangelização e do anúncio de Jesus a todos. Por isso, a importância de uma “pastoral bíblica”, entendida como animação bíblica da pastoral, que seja escola de interpretação ou conhecimento da Palavra, de comunhão com Jesus ou oração com a Palavra, e de evangelização inculturada ou de proclamação da Palavra. Isso exige, por parte dos bispos, presbíteros, diáconos e ministros leigos da Palavra, uma aproximação à Sagrada Escritura que não seja só intelectual e instrumental, mas com um coração “faminto de ouvir a palavra do Senhor” (Am 8,11).
O assunto foi tratado em outubro do ano seguinte, no Sínodo de 2008 sobre “A palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”, e, depois, sábia e laconicamente sintetizado pelo papa Bento XVI no número 73 da exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini: é preciso chegar à animação bíblica da pastoral inteira.
Uma das consequências dessa proposta do papa, com certeza, será ajudar a desfazer a tradição de atrelar a Bíblia a determinada área de pastoral, a grupos, a movimentos, como acontece, em parte, no Brasil, que, por exemplo, tem reduzido a palavra de Deus ao universo da liturgia, da catequese e ao mês da Bíblia. Ainda houve e há a redução do amplo e abrangente sentido de animação bíblica a determinado mês do ano. A frase do papa, repetimos, é clara: animação bíblica da pastoral inteira. A Bíblia, portanto, está acima e, mais ainda, perpassa todas as pastorais, movimentos, grupos, institutos e demais iniciativas da Igreja; aliás, perpassa a vida toda da própria Igreja (cf. VD 76).
Bento XVI ensina que a Palavra precisa estar em tudo o que a Igreja faz. Ele fundamenta sua reflexão e dá sugestões, principalmente no que se refere aos seguintes campos: animação vocacional (VD 77), vida e missão dos ministros ordenados (VD 78-81), formação dos candidatos às ordens sacras (VD 82), dos membros da vida consagrada (VD 83) e dos leigos (VD 84), no matrimônio e nas famílias (VD 85), na leitura orante da Sagrada Escritura (VD 86-87), na oração mariana (VD 88) e na missão que se realiza na Terra Santa (VD 89). É importante destacar aqui esta recomendação de Bento XVI:
Não se trata simplesmente de acrescentar qualquer encontro na paróquia ou na diocese, mas de verificar que, nas atividades habituais das comunidades cristãs, nas paróquias, nas associações e nos movimentos, se tenha realmente a peito o encontro pessoal com Cristo que se comunica a nós na sua palavra. Dado que “a ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo” (S. Jerônimo, Commentariorum in Isaiam libri, Prol.: PL 24, 17B), então podemos esperar que a animação bíblica de toda a pastoral ordinária e extraordinária levará a um maior conhecimento da pessoa de Cristo, Revelador do Pai e plenitude da Revelação divina.
O papa motiva ainda a animação bíblica da pastoral como importante meio de preparar bem os fiéis para se fortalecerem na fé e no amor às Escrituras Sagradas, diante da pluralidade de ofertas de numerosos grupos religiosos que fazem uma leitura instrumentalizada e deturpada dos textos bíblicos:
Por isso exorto os pastores e os fiéis a terem em conta a importância dessa animação: será o modo melhor também de enfrentar alguns problemas pastorais referidos durante a assembleia sinodal, ligados, por exemplo, à proliferação de seitas, que difundem uma leitura deformada e instrumentalizada da Sagrada Escritura. Quando não se formam os fiéis num conhecimento da Bíblia conforme a fé da Igreja no sulco da sua Tradição viva, deixa-se efetivamente um vazio pastoral, onde realidades como as seitas podem encontrar fácil terreno para lançar raízes. Por isso, é necessário prover também a uma preparação adequada dos sacerdotes e dos leigos, para poderem instruir o povo de Deus na genuína abordagem das Escrituras.
Além disso, como foi sublinhado durante os trabalhos sinodais, é bom que, na atividade pastoral, se favoreça também a difusão de pequenas comunidades, “formadas por famílias ou radicadas nas paróquias ou, ainda, ligadas aos diversos movimentos eclesiais e novas comunidades” (Propositio 21), nas quais se promova a formação, a oração e o conhecimento da Bíblia segundo a fé da Igreja (VD 73).
Nesse contexto, é de extrema importância que se multipliquem iniciativas de qualidade para garantir a todos os fiéis uma formação bíblica intensa, profunda, sistemática e corajosa. Uma formação que não só estimule um contínuo e fascinante contato-comunhão com a palavra de Deus encarnada, Jesus Cristo, mas também dinamize as pessoas para forte e vibrante ação evangelizadora, pelo testemunho de vida, pelo anúncio da boa-nova e por uma ação profética de transformação das pessoas e da sociedade segundo os valores do reino de Deus.
Um dos meios formativos de grande incidência na vida das pessoas e de toda a Igreja, que deve ser promovido e incentivado, é a leitura orante da palavra de Deus. Vivenciada com todo empenho em nível pessoal, mas sobretudo comunitário, e dentro de um clima orante, celebrativo, fraterno e comprometedor, essa leitura vai nos educando paulatinamente na fé, na esperança e no amor, formando-nos assim como discípulos missionários apaixonados por Jesus Cristo, sedentos e famintos de intimidade com ele – que se doa plenamente no alimento da Palavra, da eucaristia e da vida comunitária eclesial – e desejosos de ação libertadora profética, com ele, para a construção do reino de Deus. A leitura orante nos enriquece privilegiadamente para a missão de anunciar, com conhecimento de causa, a palavra de Deus a todos os povos com a força da sabedoria que nos vem do alto e por meio de uma caridade criativa que nos leva ao encontro dos pequenos, dos sofredores, dos injustiçados e dos excluídos. Com a Bíblia na mão, a palavra de Deus no coração e os pés na missão, pessoas e comunidades, transformadas pela palavra do Senhor, semeiam abundantemente e cultivam cuidadosamente sementes dessa palavra, que fazem produzir na Igreja e na sociedade frutos de amor, solidariedade, misericórdia, justiça e paz.
Uma das ações da animação bíblica da pastoral consiste, portanto, em incentivar, motivar, assessorar e subsidiar as Igrejas particulares, para que suas pastorais, movimentos, organismos, associações, novas comunidades, círculos bíblicos, grupos de família e outras expressões comunitárias adotem a leitura orante em seus diversos métodos e expressões, entre os quais está, privilegiadamente, a lectio divina. Essa prática, indiscutivelmente, servirá de alicerce para que tudo na Igreja tenha como ponto de partida a palavra de Deus, dela se alimente e, à sua luz, realize a missão e avalie constantemente a caminhada que está sendo feita.
5. CONCLUSÃO
Estamos sendo convidados, portanto, por diversas instâncias e ensinamentos de nossa Igreja a dar dois passos importantes em relação às Escrituras Sagradas entre nós, católicos, tanto a partir do Concílio Vaticano II, de 1962 a 1965, particularmente da Dei Verbum, como do Documento de Aparecida de 2007, do Sínodo sobre a Palavra de Deus, de 2008, e da exortação apostólica Verbum Domini, de 2010:
* primeiro, assumir efetivamente a palavra de Deus como a alma de toda a ação evangelizadora da Igreja;
* segundo, introduzir e dinamizar na Igreja a verdadeira “animação bíblica da pastoral”.
Como consequência dessa atitude, a palavra de Deus, privilegiadamente presente na Sagrada Escritura, mas expressa também na Tradição e no Magistério da Igreja, vai suscitar, alimentar, formar e acompanhar a vocação e a missão de cada discípulo missionário de Jesus Cristo e orientar todas as ações da Igreja, de modo especial as organizadas em forma de pastoral, movimento, grupo, instituição. Assim, além de ser “alma da teologia” (DV 24), a palavra de Deus se torna a “alma da ação evangelizadora da Igreja” (DP 372; DAp 248).
Desse modo, a animação bíblica da pastoral, juntamente com os esforços da pastoral bíblica, que favorece o acesso à Sagrada Escritura, seu conhecimento e assimilação, passa a aprofundar, reforçar e dinamizar, mediante a palavra de Deus, o encontro pessoal e comunitário com o Senhor, a conversão pessoal e a conversão pastoral, solicitadas por Aparecida. Assim, tudo na Igreja vai partir e se alimentar da Sagrada Escritura, que também passará a ser fundamental no processo avaliativo do que a Igreja é, planeja e faz em sua permanente busca de fazer a vontade do Pai, como pede insistentemente Jesus.
Neste momento da nossa história, em meio a tantos percalços, falhas e dificuldades e numa situação de crescente pluralismo religioso, com tantos fiéis questionando seriamente o fato de serem católicos de nome, Deus nos dá a graça de suscitar em nosso povo grande fome e sede da Palavra, grande procura e desejo de conhecer, viver e anunciar a mensagem da Sagrada Escritura. Esse kairós de encantamento pela Palavra é, com certeza, um apelo para que, em nossas dioceses, paróquias e comunidades, se continue não apenas a oferecer e facilitar o acesso à Bíblia, ao estudo bíblico e à vivência da mensagem revelada, mas a fazer a palavra de Deus incidir de modo realmente transformador na vida e missão das pessoas, da Igreja e da sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENTO XVI. Verbum Domini: a palavra de Deus na vida e na missão da Igreja. Brasília: CNBB, 2010. (Documentos Pontifícios.)
CELAM. Documento de Aparecida: textos conclusivos da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulus: Paulinas; Brasília: CNBB, 2008.
______. Documento de Puebla: a evangelização no presente e no futuro da América Latina. São Paulo: Loyola, 1980.
CONCÍLIO VATICANO II. Dei Verbum: sobre a revelação divina. Petrópolis: Vozes, 1966.
NARANJO SALAZAR, Gabriel. De la pastoral bíblica a la animación de la pastoral. Bogotá: Celam: San Pablo, 2010.
RETAMALES, Santiago Silva. La animación bíblica de la pastoral del pueblo de Dios: su identidad y misión. Santiago: Comisión Nacional de Animación Bíblica de la Pastoral: Conferencia Episcopal de Chile, 2009.
* Religioso do Instituto dos Irmãos de La Salle, graduado em Filosofia e Teologia pela Universidade Lateranense (Roma), especialista em Catequese, escritor (57 livros), membro do Grecat/CNBB e presidente da Sociedade de Catequetas Latino-Americanos (Scala). O presente artigo foi escrito em função do 1º Congresso Brasileiro de Animação Bíblica da Pastoral (Goiânia, 8-11 de outubro de 2011
Irmão Nery, fsc