Roteiros homiléticos

19 de janeiro – 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM

Por Aíla Luzia Pinheiro Andrade

CHAMADOS A SER SANTOS

I. INTRODUÇÃO GERAL A história da humanidade mostra que o pecado cavou um abismo entre o Criador e a criatura. A humanidade por si só não pode superar esse abismo. Para realizar o que era impossível ao ser humano, Deus prometeu um redentor. Jesus revelou que essa promessa, renovada através dos séculos, não se restringia apenas a Israel, mas almejava atingir a humanidade inteira. Paulo afirma na segunda leitura que todos são “chamados a ser santos” (1Cor 1,2). Isso só é possível porque o “Cordeiro de Deus”, ou seja, o consagrado por excelência, “tira o pecado do mundo”. Jesus associa cada ser humano à sua própria vida como oferta ao Pai. O Deus santo e santificador aceita, em Jesus, a consagração da vida de cada pessoa. Dessa forma, supera a ruptura abissal entre Criador e criatura. II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS 1. Evangelho (Jo 1,29-34): Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! No evangelho de hoje, João dá testemunho sobre Jesus Cristo, o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. O batismo de Jesus apresenta-se como ocasião de sua manifestação a Israel. O Antigo Testamento admite vários tipos de sacrifícios. Quando o israelita ofertava a si mesmo por meio do sacrifício de um cordeiro, acreditava que com esse rito entrava em comunhão com Deus. É nesse sentido que o evangelho nomeia Jesus como o “Cordeiro de Deus”. A vida de Jesus foi inteiramente consagrada ao Pai, pois sua existência terrena foi vivida em obediência amorosa à vontade divina. O Filho amado de Deus tornou-se humano para conduzir os seres humanos à amizade com Deus. Ele é o Cordeiro porque destrói de uma vez por todas a inimizade entre o Criador e a criatura, realizando entre ambos a comunhão plena. Por seu batismo, prefiguração do batismo cristão, Jesus é ungido pelo Espírito Santo, que o conduzirá em sua missão. Esse mesmo Espírito que estava sobre Jesus é que foi dado aos cristãos. Isso significa que, pelo batismo, somos associados a Cristo para viver nossa consagração como oferta ao Pai. Quando a consagração batismal é assumida numa verdadeira vida cristã, supera-se a ruptura entre o ser humano e seu criador. 2. I leitura (Is 49,3.5-6): Para que a salvação chegue até a extremidade da terra Esse texto da primeira leitura da liturgia de hoje trata da missão universal do Servo de Deus. Em primeiro lugar, no v. 3, o Servo é o povo de Israel personificado em um indivíduo. Mas no v. 5 ele recebe a missão de fazer Israel voltar a seu Deus e à Terra Prometida. Nesse caso, o texto se refere a outra pessoa, geralmente identificada como o Messias. Segue-se o v. 6, que afirma que não basta reconduzir Israel a Deus e à terra da promessa: o Servo tem de ser luz para as nações. Ele deverá cumprir o desígnio divino e a vocação de Israel, fazendo que os reis (os povos) adorem o Deus uno. Os cristãos creem que o povo de Israel foi conduzido, por meio de uma série de acontecimentos históricos, até a consumação da redenção na pessoa de Jesus Cristo. Jesus realizou a missão do Servo, pois com Jesus a redenção foi estendida até os extremos da terra, ou seja, a todos os povos. 3. II leitura (1Cor 1,1-3): Aos santificados em Cristo Jesus No v. 1, Paulo se identifica em primeiro lugar como “apóstolo”, isto é, o “enviado”. Esse termo define sua vocação e missão entre os gentios (os não judeus). Em seguida, ao identificar os destinatários da carta, Paulo utiliza o vocábulo “Igreja”, cujo significado é “assembleia do povo congregado por Deus”. Por isso, os membros da Igreja são santos e eleitos. Ao considerar uma comunidade cristã como povo de Deus, Paulo quer dizer que cada comunidade local condensa as características do povo de Deus em seu sentido mais amplo. Assim, a Igreja de Corinto é povo de Deus e grupo de santificados. Ou seja, é uma assembleia de pessoas consagradas a Deus. Tal consagração é obra de Deus mesmo em cada membro e na comunidade como tal. A santificação ou consagração das pessoas é realizada por meio de Cristo Jesus. Somente a obra redentora de Cristo pode haurir a santificação/consagração dos que formam a Igreja. III. PISTAS PARA REFLEXÃO A ênfase da liturgia é a vocação para uma vida de santidade, isto é, para uma vida ofertada a Deus. Mas a santidade, em sentido cristão, é engajamento para transformação do mundo, e não uma busca do extraordinário ou fuga da realidade. Pelo batismo, somos associados à consagração (oferta) de Jesus e, à medida que o cristão consagra a própria vida como oferta, orientando todas as suas atividades, sem exceção, ao cumprimento da vontade do Pai, o pecado é tirado do mundo, ou seja, a rebeldia contra o plano de Deus cede lugar ao Reino de justiça e paz.

Aíla Luzia Pinheiro Andrade

Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje - BH), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica e lecionou por alguns anos. Atualmente, leciona na Faculdade Católica de Fortaleza. É autora do livro Eis que faço novas todas as coisas – teologia apocalíptica (Paulinas). E-mail: [email protected].