Carta do editor

janeiro-fevereiro de 2010

Graça e Paz!

Nesta edição de Vida Pastoral reunimos três temas que podem parecer distintos, mas se unem intimamente entre si.

O primeiro é são Paulo e a pastoral urbana. Como sabemos, a maioria da população brasileira passou a viver em cidades, e a cultura urbana pós-moderna, em grande parte avessa à religião, é um desafio para a evangelização. Para lidar com essa conjuntura, podemos encontrar significativa inspiração no apóstolo Paulo e em suas comunidades. Ele dirigiu-se aos grandes centros urbanos de seu tempo, fundando aí pequenas comunidades com as quais mantinha constante comunicação. Paulo intuía que elas seriam fonte de irradiação do evangelho para os lugares menores das redondezas. Já naquele tempo a cultura dos centros urbanos se expandia para os outros espaços. Hoje isso é ainda mais intenso, pois as possibilidades de comunicação e mobilidade são imensuravelmente maiores. Se não soubermos dialogar com a cultura urbana pós-moderna, atualizando a relevância do evangelho para as pessoas imersas nela, estaremos decididamente optando pelo fracasso na evangelização.

O segundo subtema é o Ano Sacerdotal. Para a eficácia de seu ministério, é mister que os padres se situem bem na cultura atual. Ao mesmo tempo que toda a Igreja procura promover a valorização e a santificação de seu clero, chamando a atenção de todos para as condições concretas em que vivem e atuam os padres, cabe levar em conta a conveniência de formar sacerdotes para hoje, para a cultura e as necessidades da época. Modelos presbiterais do passado, imbuídos de aspectos clericalistas, podem ser pouco eficazes no mundo presente. Também nesse caso o apóstolo Paulo oferece um testemunho significativo, expresso na maneira pela qual exerceu seu ministério e ajudou a suscitar ministérios em suas comunidades.

A terceira vertente temática desta edição são as conclusões e a mensagem final do 12º Intereclesial das CEBs. As comunidades de base se identificam muito com as primeiras comunidades cristãs, particularmente com as comunidades paulinas. São uma forma consistente de ser Igreja, reconhecida pelo Documento de Aparecida, e podem colaborar muito na atualidade da missão continental e da pastoral.

Inspirados por Paulo, pelo Ano Sacerdotal e pelo testemunho das CEBs, somos chamados a nos abrir para as transformações e as novas enculturações de que a Igreja necessita. A realidade atual nos desafia a tomar atitudes concretas, e uma das principais, pela qual há grande anseio, diz respeito à questão das comunidades sem padre. Para levar adiante a missão da Igreja, um passo real será renovar a maneira de organização das comunidades e de constituição de ministros ordenados, a fim de favorecer que as muitas comunidades atualmente sem padre tenham a eucaristia dominical e tudo o mais que o ministério presbiteral engloba, o que pode dar grande impulso à pastoral. Talvez não haja escassez de vocações, mas excesso de impedimentos para definir quem pode ou não ser padre. Quem sabe um dia, havendo adequada reflexão e preparação, as lideranças que dirigem as comunidades sem padre não poderão vir a ser ordenadas?

 

Jakson Ferreira de Alencar, ssp

Editor